6 de março de 2004

Vó!

- Olá vó! Então comé que vai isso?
- Olha filha. Vai-se andando.

É sempre o que me diz. Que vai andando. Embora fique quase sempre parada. De vez em quando acrescenta um
"Tou à espera de morrer!" , que eu logo tento afastar
"Ai que horror! Então vó, isso são lá coisas que se digam!".
Daí a conversa passa pras telenovelas, que controlam o seu dia, p´ras namoradas do meu irmão que ela insiste em querer saber quem são, pro meu namorado e pros sermões do costume
" Ai filha! Tem cuidado! Tu não tens medo de andar na rua?! Eu vejo tanta coisa na televisão!"

Mas nem sempre foi assim. Quando era miúda, passava-la lá os dias. Aliás ela custuma dizer que foi ela que me criou. Nessa altura, fazia-me almoço deliciosos todos os dias e lá tentava ensinar-me as receitas. Ralhava comigo quando não batia o bolo para o lado certo e gritava quando eu lhe destuia as flores que cuidava com tanto carinho. Ensinou-me a fazer renda e a lavar a roupa á mão.
" Tás a ver? Tens de esfregar assim!"

Tenho saudades desses tempos e ela ainda mais que eu.








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